domingo, 19 de setembro de 2010

AMBIENTALISTAS: NÃO DÁ PRA FICAR EM CIMA DO MURO

Confesso que a recente declaração do cineasta canadense James Cameron de que o governo brasileiro tem agido de forma obscura para forçar a construção da Hidroelétrica de Belo Monte, na Amazônia, soou, até inconscientemente, por um breve momento, como uma acusação pessoal. Mas, alto aí! Sou ambientalista, venho acompanhando o caso e concordo plenamente com a declaração do cineasta (veja as postagens TRF FAZ ACORDO PARA TROCAR JUIZ QUE SUSPENDEU BELO MONTE e  DOSSIÊ ATUALIZADO DE BELO MONTE ) , então, por que tal sentimento? Talvez seja o mesmo mecanismo psicológico que envolva população de dois países em conflito: são os governos que declaram guerra, mas as respectivas populações, não raro, acabam tomando as dores.

Elaborado pelo governo Lula, em especial por Dilma, então como ex-ministra das Minas e Energia e Chefe da Casa Civil, o plano de construir pelo menos 19 hidroelétricas na Amazônia, além de um atentado à sociedade e biodiversidade local, é uma verdadeira declaração de guerra ao já fragilizado clima mundial. Trata-se de alterar o maior sistema hídrico que se conhece sem ter a menor idéia das consequências. A floresta é uma das grandes responsáveis pela distribuição de umidade no planeta. Para as regiões Sul e Sudeste do Brasil, num fenômeno conhecido como “rios voadores”, a bacia amazônica envia uma trilha de nuvens carregada com o equivalente à vazão do rio Amazonas. Fenômenos semelhantes partem em direção às Américas Central e do Norte, além de ocasionalmente ultrapassarem os Andes em direção ao Pacífico. Considerando que o presidente é eleito democraticamente pelo voto da maioria da população e que as pesquisas apontam Dilma praticamente eleita no 1º turno, como nós, ambientalistas e potenciais formadores de opinião, vamos explicar às gerações futuras que não tivemos nada a ver com isso?

Sejamos responsáveis! Desde 2008, em praticamente todo o planeta estão sendo registrados, sucessivamente, recordes históricos de baixa umidade do ar nos respectivos períodos mais secos do ano. Nos meses tradicionalmente chuvosos os índices pluviométricos estão pulverizando, de longe, todas as medições já realizadas. O fato de serem recordes sucessivos, e de tal forma exacerbados, exclui quaisquer hipóteses de serem simples ocorrências de “El niño” ou “La niña”. Em atuação faz tempo, as mudanças climáticas finalmente chegaram ao nosso quintal. Quem estiver esperando o consenso do meio científico e alguma atitude de políticos tradicionais, fique sabendo que isso não acontecerá nem que a temperatura média suba 5ºC e o mar avance 3m. Não é preciso ser meteorologista para prever que a posse do futuro presidente certamente se dará em meio a recordes de chuvas no Sudeste, com a maior parte das águas vindas da Amazônia e Lula dizendo, mais uma vez, que só nos resta “rezar para Papai do céu fechar a torneira”.   

Desinformação. O caderno economia do Estadão apresentou, neste domingo, uma matéria indicando que na região Sudoeste de São Paulo não chove há 65 dias e que o prejuízo da seca no Brasil deverá elevar os preços dos produtos agrícolas. Citando a agência meteorológica Climatempo, o jornal atribui a culpa ao “La niña”, que supostamente ao contrário de 2009, estaria fazendo de 2010 um ano mais seco. Será? Janeiro último foi o mês mais chuvoso da história de São Paulo. O jornal ainda destaca o comentário de um agricultor, cuja represa de irrigação está secando: “estamos nas mãos de São Pedro”. Em momento nenhum a matéria cita as mudanças climáticas nem o projeto da bancada ruralista e base aliada do governo federal para alteração do Código Florestal, no qual está prevista, entre outros absurdos, a possibilidade de redução á metade da faixa mínima de matas ciliares, aquelas que protegem os corpos d’água.

Na propaganda eleitoral petista é dito que as notícias de escândalos não passam de desespero da oposição. Neste caso, nós, ambientalistas estamos desesperados há 8 anos, com requinte de crueldade especial desde que Dilma assumiu a Casa Civil e se embrenhou nos PACs. Porque ficar neutro?

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