domingo, 30 de janeiro de 2011

GOVERNO FEDERAL E IBAMA SÓ PODEM ESTAR DE BRINCADEIRA

NO MESMO MÊS em que a umidade vinda da Amazônia, impulsionada pelas mudanças climáticas, atingiu com força jamais vista o Sudeste brasileiro, principalmente a região serrana do Rio, o IBAMA concedeu, semana passada, a “licença de instalação parcial” que dá partida ao projeto de construção, justamente em Belo Monte, na Amazônia, da 3ª maior hidroelétrica do planeta.  Trata-se de um fracionamento ilegal da Licença de Instalação (LI), que permitirá ao consórcio liderado pela NESA (Norte Energia S.A.) desmatar 238 hectares de floresta apenas para a montagem dos canteiros de obras e acampamentos.
O TAMANHO DO ESTRAGO. A concessão da licença parcial é o primeiro passo no processo de destruição que envolve a construção da Usina de Belo Monte, cuja obra completa ainda deslocará um trecho do rio Xingu com vazão superior à das cataratas do Iguaçu, interrompendo seu curso por cerca de 100 km; removerá mais terra do que foi retirada para a construção do canal do Panamá; e inundará cerca de 500 km² de floresta, obrigando o deslocamento de aproximadamente 50 mil índios e camponeses. Este será, sem dúvida, o maior impacto ambiental que a Bacia Hidrográfica Amazônica já sofreu.  
COM PAÍS E IBAMA SOB NOVA DIREÇÃO, a licença provisória foi emitida em menos de um mês pelo presidente substituto da entidade, Américo Ribeiro Tunes, sem que nenhum dos 40 condicionantes exigidos para tal fosse cumprido pela NESA. Por este e outros motivos, o Ministério Público Federal do Pará decidiu entrar na justiça contra a licença, mas as perspectivas não são boas. No caso da hidroelétrica de Jirau, no rio Madeira, a máquina governamental criou e conseguiu manter, na “justiça”, o mesmo tipo de licença, sem o cumprimento dos respectivos condicionantes.   
QUEM VAI PEDIR “LICENÇA” às vitimas atuais e futuras das chuvas no sudeste brasileiro? Aos índios e camponeses deslocados ao longo do Xingu? À população do planeta que terá um de seus principais sistemas reguladores climáticos violados?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

FALANDO SÉRIO SOBRE AS CHUVAS

Desde 2009, quando a pressão das águas pluviais romperam as tubulações abaixo do parque da Aclimação, em São Paulo, o país vem registrando, sucessivamente, índices alarmantes de chuvas com ventos fortes e secas em seus respectivos períodos, o primeiro dos sintomas previstos para um cenário de mudanças climáticas severas. Janeiro de 2010, por exemplo, foi, até o momento, o mês mais chuvoso da história na capital paulistana desde que começaram as medições na década de 1930. Diante de uma média de 220 milímetros para o período e recorde anterior de 424,9 milímetros (em 1989), uma estação meteorológica na zona norte da cidade registrou incríveis 628,9 milímetros. No mesmo ano, São Paulo teve o inverno mais seco já registrado. Tudo indica que o fenômeno tende a se agravar ao longo da década.


Janeiro de 2011 nem terminou e o país já registra a maior tragédia supostamente natural de sua história. Isso porque outra característica das mudanças climáticas, ainda mais grave do que a superação das médias pluviométricas, se manifestou: as super tempestades. Em apenas uma noite choveu 180 milímetros em Nova Friburgo, cidade que, ao contrário de Petrópolis, Teresópolis e Itaipava, não tem histórico de grandes deslizamentos.

Em 20/01/11, treze bairros de Nova Iguaçu, na baixada fluminense, foram atingidos por nada menos do que um inédito tornado nível F1. Casas e postes foram destruídos, animais e pessoas foram arrastados e, obviamente, faltou luz. Outra baixada, a de Jacarepaguá, ainda mais vulnerável a chuvas, ventos e elevação do nível do mar receberá bilhões de dólares em construções para abrigar a Olimpíada no Rio em 2016. Desinformação?

Infelizmente, grande parte do meio científico ainda não entendeu que não há mais espaço para conservadorismos. A todo momento comentam que as chuvas na região sudeste têm como principal causa “corredores de umidade” vindos da Amazônia. O nome correto é “rios voadores” por um motivo muito simples: trata-se de uma trilha de umidade capaz de carregar o equivalente à vazão do maior rio do planeta, o Amazonas. Colocados os nomes corretos, sem medo de utilizar um termo inventado por outro cientista, como se patenteado fosse, dá pra ter uma noção do estrago do que pode ocorrer quando o fenômeno ganha força nas mudanças climáticas.

Alguns “especialistas” ainda mais conservadores vão sempre recorrer ao “el niño” ou à “la niña”, mas a verdade é que estes fenômenos estão perdendo suas características diante das já constatadas mudanças nas correntes marítimas, decorrentes das alterações de salinidade, densidade e temperatura nos oceanos. Infelizmente, em todas suas esferas, o poder público não dá o menor sinal de sequer reconhecer o problema, muito menos de tomar providências nas dimensões necessárias.

Misturando raios, chuva e ventos com intensidades inéditas, as tempestades terão maior potencial para causar alagamentos e deslizamentos, que, além de destruir o que está no caminho, levam águas contaminadas (esgotos, lixo em geral, doenças) e lama para os reservatórios, plantações e residências. Se combinarmos isto aos apagões causados pela destruição de postes e linhas de transmissão, teremos a inevitável falta d’água. Isso porque é a eletricidade que bombeia a água até as residências e daí até a caixa d’água. Imagine a situação em abrigos, creches e asilos.

Mais do que nunca serão necessárias caixas d’água capazes de suportar mais de 1 semana; sistemas de captação, armazenagem e filtragem da água de chuva, geradores residenciais e telhados resistentes. Uma coisa já ficou mais do clara: não dá para esperar que as autoridades façam alguma coisa, já que sequer conseguem impedir construções em áreas de risco. Pior, estão tentando, a qualquer custo, construir hidrelétricas na Amazônia e mudar o Código Florestal.